Originalmente publicado em 1865, “As Aventuras de Alice no País das Maravilhas” (Alice’s Adventures in Wonderland), de Lewis Carroll mudou para sempre o curso da literatura infantil. Para o diretor Tim Burton, a possibilidade de poder colocar sua própria visão em um clássico como o de “Alice no País das Maravilhas” foi impossível de resistir. “Faz parte da cultura”, reflete ele sobre o conto de Carroll, que inspirou inúmeras adaptações para o teatro, a televisão e o cinema. “Então, mesmo que não tenha lido o livro, você reconhecerá algumas imagens ou terá ideias sobre elas. É uma história muito popular.”
“Sou grande fã do livro”, diz Johnny Depp, que estrela no filme como o Chapeleiro Maluco. É um fenômeno em termos de invenção, de realização literária. É tão brilhante, atual e interessante hoje como foi na época.”
“Lewis Carroll tinha uma mente notável e esses livros simplesmente transcendem tempo e lugar”, diz a roteirista Linda Woolverton. “Os personagens são muito diferentes e engraçados e há um pouco de nós em todos eles: a Rainha Vermelha, com sua fúria; o deslumbre de Alice com tudo que vê ao seu redor e a tragédia do Chapeleiro. É material para um ótimo filme.”
Com o sucesso de Alice, Carroll (o nome artístico do Reverendo Charles Lutwidge Dodgson, um acadêmico em matemática da Universidade Christchurch de Oxford, na Inglaterra) tornou-se um dos maiores escritores infantis da época e seis anos depois escreveu “Alice no País dos Espelhos” (Through the Looking-Glass), que foi ainda mais popular do que seu predecessor. Hoje, os dois livros geralmente são publicados juntos sob o título “Alice no País das Maravilhas” (Alice in Wonderland) e sua contínua influência pode ser vista em videoclipes, revistas em quadrinhos, videogames, óperas e artes em geral.
“Uma das razões porque os personagens de Lewis Carroll funcionam bem no cinema é o fato de serem muito criativos e de não haver um modo único de interpretá-los”, diz Anne Hathaway, que estrela como a Rainha Branca. “Porque Lewis Carroll brincou à vontade com palavras e conceitos e também porque os personagens mexem com a imaginação, eu acho que há tantas interpretações quantas imaginações no mundo. Depende de como você vê.”
“De algum modo toca em algo subconsciente”, diz Burton sobre o material. “É por isso que todas essas grandes histórias permanecem, porque elas mexem com coisas que as pessoas provavelmente nem têm ciência num nível consciente. Com certeza tem alguma coisa com relação àquelas imagens. É por isso que foram feitas tantas versões da história.
“Como um filme, sempre foi a história de uma menina passiva que embarca em uma aventura com personagens esquisitos. Nunca se mostrou qualquer tipo de gravidade”, continua Burton. “A tentativa agora foi a de pegar a ideia dessas histórias e moldá-las em algo que não seja literal a partir do livro, mas que mantenha sua alma.
“Eu realmente acredito que Lewis Carroll ficaria fascinado porque o filme é feito com muito respeito e tem raízes profundas no material original”, diz Depp. “A história de Carroll, junto com os personagens, com a visão de Tim Burton é um verdadeiro prazer.”
Incorporando personagens, elementos da história e temas centrais dos livros de Carroll, a versão de “Alice no País das Maravilhas” do diretor Tim Burton leva à história a um outro nível, por assim dizer, mostrando uma Alice crescida quando ela retorna ao lugar que visitou quando criança.
A roteirista Linda Woolverton apresentou a ideia aos produtores Joe Roth, Suzanne e Jennifer Todd. “Linda teve uma ótima ideia”, conta Roth. “Tudo se encaixa, como uma alegoria política – aqueles habitantes não são só loucos, na verdade, são revolucionários. Então, isso me pareceu perfeito em todos os níveis e a Disney era o local certo para isso. E só havia uma opção para diretor, Tim Burton, e por sorte, ele quis fazer o filme.”
Eles me deram um roteiro e disseram: 3D”, conta Burton “E mesmo antes de lê-lo. achei que era intrigante e o que eu gostei no roteiro de Linda foi que ela o transformou numa história, deu o formato de um filme que não é necessariamente o do livro. Então, todos os elementos me pareceram bons.”
Para um cineasta famoso por criar mundos fantásticos e deslumbrantes na tela, a rica tapeçaria de personagens de Lewis Carroll e seu reino mágico deram a Burton uma ampla oportunidade de deixar a imaginação correr solta, misturando técnicas de efeitos visuais, incluindo atores filmados contra telas verdes, personagens de computação gráfica, bem como o 3D. “O incrível nos livros de Carroll é que seu imaginário é muito forte”, diz a atriz Mia Wasikowka. “É por isso que é tão empolgante Tim estar no comando, porque ele é uma pessoa muito visual.”
“Tim Burton é, a sua própria maneira, um Walt Disney dos dias atuais”, diz a produtora Suzanne Todd. “Não há ninguém como ele. E Alice realmente tocou Tim – a ideia de Alice em sua jornada, indo a algum lugar para descobrir quem ela realmente é.”
O que atraiu o diretor ao projeto foi que, diferente dos contos de fadas tradicionais, o bem e o mal não eram muito claros naquele mundo estranho. “O que eu mais no Mundo Subterrâneo é que tudo é meio fora dos padrões, até as pessoas boas. Isso, para mim, é algo diferente.”
Mundo subterrrâneo? “Mundo Subterrâneo”, diz Woolverton, “é a mesma terra fantástica que Alice visitou quando criança. Mas ela entendeu mal ‘’Underland’ (terra subterrânea em inglês) e pensou que se chamasse ‘Wonderland’ (terra maravilhosa). Agora com a menina quase adulta, Alice retorna e descobre que o nome verdadeiro daquela terra é Mundo Subterrâneo. O tempo passou. A Rainha Vermelha controla tudo. É ela quem manda. E o povo do Mundo Subterrâneo precisa de Alice.”
Quando chegou a hora de escolher a atriz para o papel de Alice, os produtores buscaram novos talentos. “Nós vimos muitas atrizes de todas as partes do mundo”, recorda-se o produtor Richard Zanuck. “Todas queriam interpretar este papel.”
“Todo mundo tem uma ideia de Alice e era importante deixar a bagagem de lado e fazê-la realmente uma adolescente o máximo possível, mas também manter alguns aspectos originais de seu personagem. É empolgante levar esses personagens e essas histórias para outra geração”, diz Mia Wasikowska, atriz australiana de 19 anos, que foi escolhida para o papel.
“Eu gostei do jeito dela”, resume o diretor Tim Burton sobre a atriz. “Mia é incrível”, diz Depp. “Ela é uma coisinha maravilhosa de outro planeta. Para mim, foi ótimo trabalhar com Mia que é linda, maravilhosa, doce, a perfeita Alice.”
“Alice No País Das Maravilhas” marca o sétimo trabalho de Tim Burton com Johnny Depp desde o primeiro filme que fizeram juntos – “Edward Mãos de Tesoura”, em 1990.
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“É incrível”, diz Depp, “tendo trabalhado com Tim há 20 anos, eu tive a oportunidade de vê-lo crescer. Ele é único e muito especial, um cineasta brilhante. Qualquer coisa que Tim quiser que eu faça é uma verdadeira honra”, assume. “Além disso, a combinação de poder interpretar o Chapeleiro Maluco e pegar o que Lewis Carroll fez e o que é a visão de Tim, e depois inserir minha própria interpretação… é a realização de um sonho”, completa.
O Chapeleiro deu a Depp a oportunidade de criar mais um personagem singular. “Foi um grande desafio encontrar algo diferente, definir o Chapeleiro Maluco em termos de cinema”, diz o ator. “Ele tem uma habilidade para transformação que é fabulosa”, explica o produtor Richard Zanuck sobre Depp. “Não há ninguém capaz de fazer esses personagens excêntricos, fora dos padrões e loucos como Johnny. Ele tem uma maneira de ser engraçada e louca, porém comovente. Ele é um dos maiores atores do mundo, ele assume riscos maiores do que qualquer outro grande astro.”
Conforme o ator desenvolvia o personagem, Depp descobriu o que os chapeleiros da época frequentemente sofriam de envenenamento por mercúrio. “A expressão ‘louco como um chapeleiro’ vem, na verdade, de chapeleiros da vida real, que faziam chapéus tipo cartola”, diz ele. “A cola que eles usavam tinha alto teor de mercúrio e manchava suas mãos, eles ficavam meio patetas por causa do mercúrio e depois enlouqueciam.”
Depp achou que todo o corpo do personagem, não apenas a mente, estaria afetado pelo mercúrio, e pintou uma aquarela do Chapeleiro com cabelos cor de laranja, rosto de palhaço e olhos verdes de tamanhos diferentes. “Eu simplesmente sabia como ele era”, diz ele sobre o visual final do Chapeleiro. “Quando fui para o trailer de maquiagem o processo simplesmente aconteceu. É muito raro que tudo seja tão rápido. A única vez que isso aconteceu nesse nível foi com o Capitão Jack.”
Para interpretar a petulante governante do Mundo Subterrâneo, a Rainha Vermelha, Burton convidou a sua parceira da vida real, a atriz, indicada ao Oscar Helena Bonham Carter. “Ela não governa com base em nenhuma justiça ou lealdade, mas através do terror”, diz Bonham Carter. Eu corto a cabeça das pessoas. É a minha solução para tudo.
“Helena é uma atriz destemida”, diz o produtor Joe Roth. “Ela não teme ser este personagem incrivelmente demoníaco. Ela está praticamente um ogro. O engraçado é que ela faz isso de uma forma meio infantil.”
Enquanto a cabeça de Bonham Carter é digitalmente aumentada cerca de duas vezes o tamanho normal no filme final, a atriz ainda tinha que passar pela cadeira de maquiagem diariamente para se transformar na Rainha Vermelha. “Levava umas três horas”, conta ela. “Mas eu adoro ser nobre. Mas o grande problema foi que eu perdia a voz quase todo dia às 10 horas da manhã, porque ela grita muito. ‘Cortem-lhe a cabeça! Cortem-lhe a cabeça! É bem exaustivo perder o controle o tempo todo.”
Em contraste, Mirana, a Rainha Branca, a irmã caçula da Rainha Vermelha, tem um modo de ser gentil e tranquilo – com um lado obscuro oculto. Anne Hathaway foi escolhida para interpretar a mais sutil das irmãs, “Quando eu estava tentando entendê-la, eu dizia para mim mesma: ‘ela é uma pacifista vegetariana punk-rock. Então, eu ouvi muito Blondie, assisti a muitos filmes de Greta Garbo e vi muitos trabalhos de Dan Flavin. E um pouco de Norma Desmond também foi incluído. E ela meio que emergiu.”
Hathaway até mesmo andava como uma nobre subjugada. “Eu percebi que quanto mais languida eu fazia meus braços, mais eu parecia estar deslizando”, conta ela. “Parece que ela está sobre rodas”, brinca Depp. “Ela meio que desliza e suas mãos começam a falar antes dela. As mãos têm personalidade própria.”
Para interpretar Ilosovic Stayne, o evasivo Valete de Copas de um só olho da Rainha Vermelha, Burton convidou o ator, cineasta, músico e escritor Crispin Glover. “Eu o conheci no início dos anos 1980”, conta Burton. “Ele é um sujeito muito singular. É um homem realmente da renascença. Não há muitas pessoas que fazem filmes e depois fazem seus próprios filmes e sua própria arte e vivem sua própria vida do modo como ele faz. Ele é ótimo. Tem uma presença visual fantástica.”
O coastro Depp trabalhou com Glover em filmes anteriores. “Eu sempre o admirei como ator – sempre achei que ele era meio revolucionário em sua abordagem”, elogia Depp. “O que Crispin trouxe ao papel é uma qualidade de astro de rock, um belo visual dark, diferente, como um astro de rock. Com o tapa-olho, ele parece aqueles desenhos legais de Harry Clark com vida.”
“Era importante, na minha opinião, ter um forte e verdadeiro sabor britânico”, diz Burton sobre o elenco de vozes de “Alice no País das Maravilhas”, que inclui Alan Rickman como a Lagarta, Michael Sheen como o Coelho Branco, Stephen Fry como o Gato Risonho, Timothy Spall como Bayard o Cão, Barbara Windsor como Domindongo, Christopher Lee como Jaguedarte, Michael Gough como Dodô e Paul Whitehouse como a Lebre de Março. “Há muitas pessoas que eu sempre admirei.”Eu sempre tentei fazer as vozes de personagens animados não excessivamente como personagens animados, e eles todos sentiram que estavam no mesmo mundo”, completa o diretor.
“Eu gostaria de poder ter colocado uma fantasia e corrido por aí de orelhas e rabo”, diz rindo Michael Sheen, que fez a voz do Coelho Branco. “Infelizmente, só fui ao estúdio de som fazer a voz.”
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