Em entrevista ao UOL Cinema, Johnny Depp fala sobre o novo filme Alice no País das Maravilhas e sua consagração como ator.
Apesar da atenção que recebeu, Depp tomou outro rumo e parece se concentrar na carreira de ator. Ao trocar sucessos certos de bilheteria por personagens peculiares que chamam sua atenção, Johnny assumiu papéis em uma grande variedade de filmes, incluindo “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça”, “Chocolate”, “Em Busca da Terra do Nunca” e “O Libertino”. E, depois de Jack Sparrow, personagem de ''Piratas do Caribe'', admite que ficou mais atrativo para os estúdios, até então relutantes em lhe dar um qualquer papel
Notoriamente tímido, Depp é famoso por detestar ver a si mesmo na tela grande, mas fez uma exceção para seu mais recente papel, como o Chapeleiro Maluco em “Alice no País das Maravilhas” –sua sétima colaboração com Tim– e estava claramente feliz com as reações positivas de seus próprios filhos, que adoraram sua interpretação maluca e sombria do personagem icônico. Em entrevista, o ator contou como escapa da pressão da fama, suas colaborações com Tim e como deixou sua marca no Chapeleiro Maluco.
UOL Cinema - Qual é o segredo do seu sucesso?
Depp - Acaso. Apenas sorte, sério. Eu tive muita sorte ao longo dos anos, é um milagre as pessoas ainda me contratarem após algumas das coisas que fiz. Não há como prever. Antes de “Piratas do Caribe”, eu fui rotulado de “veneno de bilheteria”, algo que não me incomodava. E então “Piratas” aconteceu e agora Tim (Burton) não precisa mais brigar com os estúdios para me dar um papel, o que aconteceu durante muitos anos.
UOL Cinema - Como você lida com a fama e toda a adoração pública?
Depp -Você nunca se acostuma a esse tipo de coisa. Esse é o motivo para eu não sair de casa com frequência. Eu não vou a lugar nenhum. Eu entendo do que se trata a celebridade e a fama, e as aprecio, mas há um limite para esse tipo de coisa com a qual uma pessoa consegue lidar. Se a escolha é entre ser constantemente bajulado ou ficar sentado em um quarto escuro, eu prefiro o quarto escuro.
UOL Cinema - “Alice no País das Maravilhas” tem muitos personagens estranhos e maravilhosos. Eles te influenciaram quando você estava filmando?
Depp - Eu tive sonhos horrendos, mas sempre tive a tendência de ter sonhos sombrios. Eu não me lembro especificamente de nenhum dos que me atormentaram durante a filmagem, mas não acho que tenha tido algo a ver com a filmagem, foi algo isolado. Certa vez eu tive um em que o capitão da série de TV “A Ilha dos Birutas” me perseguia pelas ruas de Hollywood.
UOL Cinema - Você não gosta de assistir aos seus filmes, mas você assistiu “Alice no País das Maravilhas”?
Depp - Se eu puder evitar o espelho diante do qual escovo meus dentes pela manhã, eu evito. Eu encontro segurança no grau mais profundo de ignorância. Se você puder permanecer ignorante a respeito de quase tudo, você ficará bem. Apenas continue seguindo em frente. É ok notar as coisas, mas julgar as coisas retardará você, então não gosto de ver a mim mesmo nos filmes. Eu não gosto de estar ciente do produto, eu gosto é do processo. Não é minha culpa. Não fui eu que fiz. Eu estava lá, mas não fiz. Eu não suporto assistir meus filmes. Eu prefiro partir com a experiência do processo e apenas com isso, o que me basta. Mas este aqui eu assisti porque é o Tim no seu máximo. Ele realmente foi longe neste aqui.
UOL Cinema - Seus filhos viram o filme?
Depp - Eles viram e adoraram. Eles ficaram malucos com ele, citando coisas do filme. Foi incrível. Eles amaram e não ficaram nem um pouco assustados.
UOL Cinema - “Alice no País das Maravilhas” é seu sétimo filme com Tim Burton. Como seu relacionamento com ele mudou ao longo dos anos?
Depp - Nós nos conhecemos há 20 anos, em “Edward Mãos-de-Tesoura”, e o fato dele ter me escalado naquele filme foi um milagre. Assim que você conhece alguém por tanto tempo, você se torna íntimo, mas em termos do processo e do trabalho, não mudou nada desde aquela época, exceto por um tipo de abreviação. Tim mexe a cabeça ou entorta os olhos de uma certa forma e eu já sei o que ele deseja. Mas uma coisa evoluiu entre nós, não há como deixar de falar... quando homens adultos começam a trocar fraldas e coisas assim, e conversam a respeito. Ter filhos, esse tipo de coisa. Uma das coisas que mais me orgulho foi de ter sido a primeira pessoa a dar ao Tim uma caixa completa de DVDs de “The Wiggles” (uma série de TV musical infantil australiana). Ele ainda não me perdoou por isso.
UOL Cinema - Quanto você opinou sobre sua interpretação do Chapeleiro Maluco?
Depp - Eu sentia fortemente como deveria ser sua aparência, como seria seu comportamento, que ele não deveria apenas promover um baile em um salão e apenas fazer loucuras para obter risadas. Eu senti que devia haver outro lado dele, algum grau de dano ou trauma.
UOL Cinema - Ele tem uma aparência singular. Qual foi seu toque pessoal no visual do personagem?
Depp - Em termos de aparência do personagem, parte do material inicial veio diretamente do livro, como esses pequenos detalhes estranhos e enigmáticos que o autor, Lewis Carroll, deixou lá. Ele diz coisas como, “Eu estou investigando coisas que começam com a letra M”, que eu considero muito intrigante porque nunca há uma resposta, mas tem a ver com mercúrio. Eu comecei a pesquisar sobre chapeleiros e havia essa coisa chamada doença do chapeleiro –a substância que usavam para colar os chapéus continha muito mercúrio e eles acabavam se envenenando, e a doença se manifestava de formas diferentes, como desordens de personalidade ou coisas ainda mais estranhas e sombrias. O produto de fato tinha uma coloração alaranjada, que é o motivo dos detalhes laranjas. Minha abordagem ao personagem foi apenas a ideia de encontrar esses lugares interiormente, passar para os extremos da personalidade, de forma que, em um minuto você está em fúria plena, no minuto seguinte você mergulha em medo e em seguida ao auge da frivolidade, que foi o que tentei fazer nas cenas sempre que encontrava o momento certo.
UOL Cinema - Quem é seu louco favorito?
Depp - Tim, porque ele me arruma trabalho. De certo modo ele é maluco, mas é uma loucura que funciona para ele. Correndo o risco de embaraçá-lo, eu sempre admirei o Tim por seu compromisso com sua visão e com a impossibilidade do compromisso, por fazer exatamente o que queria, da forma que queria, em seu estilo único. No meu entender, ele é um dos poucos artistas verdadeiros trabalhando no cinema.
Agradeço a cinema.uol.com.br e a johnnydepp.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário